Monday, April 25, 2005

Sempre contigo

Estarei sempre contigo. Quando precisares. E mesmo quando não precisares. Estarei sempre aqui. É esse o meu papel. O papel de um amigo. Quero partilhar contigo as nossas inseguranças, os nossos medos e as nossas forças. Quero que partilhes isso comigo. Se o quiseres. Se precisares. Serei um porto de abrigo para ti em noites de tempestade interior. Serei um regaço onde podes descansar das maldades da vida. Podes adormecer ao meu lado. Farei tudo para que o teu sono seja sereno e os teus sonhos sejam doces. Podes derramar as tuas lágrimas sobre mim. Farei com que as minhas palavras adocem a tua tristeza e sequem o teu rio de lamentos. Podes contar sempre comigo para te acariciar o cabelo quando precisares de paz e sentires que ninguém te compreende. Que és estranha a tudo e a todos. Todos nós nos sentimos assim de vez em quando. Tu também tens o direito de te sentir assim. Mas não deixas de ser especial por causa disso. Nunca te esqueças disso. Eu sei que não o vais esquecer. Porque eu vou estar sempre aqui para te amparar. Mesmo quando sentires o pânico amarrar-te o corpo e não te deixar respirar. Mesmo quando tiveres medo de todos. Quero que leves sempre o meu abraço contigo. Para te proteger. Não deixarei que ninguém te faça mal.
É para isso que servem os amigos, não é?

A dança

Foi tão bonita a nossa dança. A maneira como os nossos corpos rodopiavam ao som de uma melodia criada por nós. Enquanto os outros escutavam a música que passava na rádio, as nossas almas deslizavam ao som dos nossos olhos, das nossas mãos, dos nossos lábios. Sentir a música dentro de mim como nunca a tinha sentido até então. De uma forma tão fresca e tão sedutora. Como tu me seduziste com os teus movimentos suaves e contundentes. Com o teu olhar de criança que só precisa de uma carícia para poder sorrir. Se soubesses como eu sorri enquanto dançávamos. Todo o meu corpo sorria por te ter junto a mim. Todo eu dançava por dentro. Dançava a melodia da nossa canção. Uma canção criada nesse momento pelos nossos olhos, pelas nossas mãos, pelos nossos lábios. E foi então que as luzes se apagaram. O mundo tornou-se a nossa pista de dança. E tudo o resto cessou de existir. Só nós. E as nossas bocas.

Sentir

Procuro amarrar os meus sentidos à força ténue da persistência. Encontro dentro de mim silêncios que se soltam para depois saírem dentro de mim nas alturas em que mais quero gritar. Eu bem tento. Invento uma força invisível para mim e para os outros. Deixo de ser quem sou para me tornar uma figura nova mas eternamente repetida.
Tudo isto porque quero repetir aquele momento até ao infinito. O sabor de cada segundo que passei em teus braços. O cheiro das horas passadas em conjunto. A sensação de que tudo o resto eram apenas figuras de papel num undo em que os únicos personagens de carne e osso éramos nós.
Não quero pensar para não tocar na magia desse instante. O instante em que as nossas almas se tocaram e brincaram numa esfera de cor e luz. Quero guardá-lo. Conservá-lo. Preservá-lo numa redoma inquebrável. Só minha. Para que eu possa retirá-lo sempre que quiser viver esse momento de novo.
Sei que não digo nada de jeito mas isso não me preocupa. Sinto mais a vida quando me deixo levar por estes momentos de insanidade saudável. Tropeço nas palavras e caio em redundâncias e imitações de palavras ocas e gastas mas não me importo. Não me importo de cair e sentir as mãos negras da sujidade dos passos já dados em caminhos percorridos tantas vezes pelas mesmas pessoas. E por tantas outras.
Só quero sentir que vivo. Que o coração bate dentro de mim. Porque dentro de mim vive tanta coisa que às tantas já nem sei se tenho espaço para um coração que sinta. Que bata e me faça dizer tudo o que mora em mim.

Sunday, April 24, 2005

O Metro

Mais uma vez dou por mim a pensar. Por vezes nem sequer penso em nada. Mas o acto tornou-se tão natural, tão próprio da minha individualidade, que muitas vezes me limito a pensar sem ter nada lá dentro.
Se pudesse desenhar o meu interior, desenharia um enorme espaço em branco. Aí colocaria a máquina que ocupa o meu pensamento. E à volta dessa máquina colocaria toda a panóplia de sentimentos, de pessoas que vivem dentro de mim. Nesse espaço em branco colocaria uma pequena abertura por onde essas pessoas e esses sentimentos poderiam passar sempre que quero pensar neles. Mesmo quando não quero. Mas há umproblema nesse desenho. Por mais que tente não consigo arranjar uma porta, uma barreira, algo que possa impedir este fluxo contínuo que vai sempre na direcção do meu pensamento. E às vezes o meu pensamento parece um Metro em hora de ponta, tal a quantidade de vivências que se movem de um lado para o outro dentro de mim.
No entanto, outras vezes esse Metro fica vazio, mas mesmo assim não deixa de andar. Já está programado para fazer esse percurso e pouco lhe importa se vai alguém lá dentro.
É assim que funciona o meu pensamento. Se ao menos eu tivesse um botão que o desligasse quando eu quisesse. Talvez assim já não me custasse tanto ter-te dentro de mim.

Monday, April 18, 2005

Necessidade

A necessidade imperiosa de me sentir vivo. Através dos outros e de mim mesmo. Caminho exausto por ruas de sal e estradas de maresia. Acordo e vejo que mais uma vez me enganei no caminho. Mas o engano compensa. A saudável sensação do engano cola-se a mim e faz-me sentir vivo. Num mundo de fachadas imponentes e horizontes lúgubres.
Sentado em frente a esta folha espero que ela me revele algo sobre mim. Algo que desconheço. Ou algo que tenho medo de reconhecer. Mas parece que as revelações são sempre as mesmas. Abraço os momentos passados como entes queridos finalmente reencontrados. O Futuro não me importa enquanto tiver a recordação do Passado para me reconfortar o Presente. Morro e renasço todos os dias por entre as cinzas de um beijo envergonhado. De uma paixão fria e estéril. Mas aquece-me a sensação de saber que nada é eterno. E que mesmo este desconforto há-de soltar-se de mim e partir. Como se fosse uma pele velha e gasta.
Arranco as minhas unhas cheias de sangue de tanto esgravatar no ar à procura de novos mundos. Provo o ar pesado e salgado em busca de tudo aquilo que me podes dar mas nunca deste. Sorrio. Porque sei que um dia vais ser minha. Anseio por esse momento como quem anseia por algo inevitável. Nesse momento em que fores minha poderei então dizer que não te quero mais. Que já encontrei alguém que brilha mais do que tu. Não quero mais as tuas recordações. Todo o amor que existia entre nós já morreu. Arranco-o da minha pele como se arranca a uma tatuagem. Quero que desapareças. Quero que deixes de brilhar e te apagues para sempre. Quero que te tornes num ponto escuro eternamente ofuscado por outros infinitamente mais brilhantes do que tu. Não me mereces. Mereces ficar sozinha. Porque me fizeste sentir sozinho. Mesmo nos poucos momentoos em que estive contigo. Grita. Estás à vontade. Aqui ninguém te ouve. Podes chorar à vontade. Também eu em tempos chorei por ti. Cada lágrima era um peso que saía de mim para depois voltar em forma de beijo.
Agora vai. Desaparece-me por essa porta fora e leva-a contigo. Quero recomeçar de novo e não quero nada que me relembre que alguma vez estiveste aqui.

Palavras

Tantas palavras. Ocas. Mortas. Escuras. Tento à força dar-lhes cor. Conteúdo. Mas não consigo. Elas entram na minha cabeça mas de tão frágeis que são estilhaçam-se logo em mil pedacinhos. Isso cansa-me. Não quero mais dar vida às coisas que não possuem vida própria.
Estou farto de pegar no Mundo às minhas costas e fazê-lo girar à minha maneira. Não sou Atlas. Não me quero castigar desta forma.
Quero os conteúdos. As essências. Não quero os invólucros. Belos. Decorados. Mas frágeis como folhas de papel que se amachucam sem o mínimo esforço. A casca de laranja apenas nos mostra a sua cor mas aquilo que nos faz querê-la é o seu sumo. Por vezes doce. Por vezes amargo. Mas sempre refrescante. É isso que quero. Quero que o sumo das palavras, das acções, me refresque e sacie esta vontade indomável de querer sempre mais. Querer mais do que aquilo que posso acontecer.

Sunday, April 17, 2005

A inevitabilidade de pensar

Escrevo. Penso. Penso. Penso. Sinto. Desejo. Não desejo. Renego. Esqueço. Recordo. Choro. Choro. Recordo. Sorrio. Finjo.Minto. Escondo. Desapareço. enso. Penso. Racionalizo. Desespero. Porque racionalizo. Penso. Não sinto. Porque penso. Expludo. Desejo. Mas não expludo. Porque penso. Nos outros. Em mim. Em mim nos outros. Nos outros em mim.Fico fora de mim. Porque não consigo sair de mim. Porque não consigo entrar e ver o que vai lá dento. Desejo. Explodir. Para sentir. Quero fugir. Para encontrar o Outro. Em mim.
Que sou eu? Sou um conjunto de pessoas que passaram por mim e deixaram as suas pegadas. Construo. Desconstruo. Encontro. Descubro-me na relação que desenvolvo com os outros. Comigo mesmo. Penso. Penso. Penso. Nunca passo disso mesmo.
Fico sempre no intermédio entre o desejar e o realizar.

Thursday, April 14, 2005

Presente

Não há nada mais breve que o Presente. Assim que pensamos nele torna-se logo Passado.

Sonho

Os vultos sucedem-se
São todos iguais
Despidos de forma, despidos de côr
São marcas de um passado que nunca o foi
Um presente quase sempre interrompido
O futuro de ontem repetido amanhã

Todas elas apontam para mim
Chamam o meu nome, chamam o meu ser
Será desta que cumpro o meu destino?
Será que agora já posso ser eu?

Sigo em frente
Não posso fugir de quem sou
Sem medo do escuro fecho os olhos
E finalmente vislumbro o infinito
Aquilo por que sempre sonhei

Sombras

Fujo da noite que envolve o meu corpo
Sinto que o céu não tem fim
Lá fora a chuva toca a melodia dos enamorados
Que ecoa em silêncio no meu peito

As sombras perseguem-me
Não vejo nada senão o nada
O vazio já não mora mais em mim
Pois o eco do futuro ressoa na minha memória

Solidão

Solidão. Solidão não é estar sozinho. É não poder estar com quem se quer estar. Sinto-me rodeado por corpos amorfos e cansados, não pela dureza da vida, mas pelo constante fracasso de expectativas goradas.
Ser jovem é difícil. É difícil sonhar e ver esses sonhos constantemente castrados porque os horizontes dos outros não chegam tão longe quanto os nossos.
Se ao menos houvesse uma maneira de chegar mais longe, de espreitar para além desse horizonte. E ver o que está lá. Se é que lá mora alguma coisa.
As hermenêuticas e as filosofias da vida não me completam. Algo nelas fica sempre por responder. Mas eu não desisto. Continuo a lutar para descobrir todas as respostas. Chegar para além do horizonte. Mas parece que estou a lutar contra moinhos de vento. Contra adversários que só eu vejo. Por isso nunca chego a perceber se as minhas vitórias são reais ou se são meros fantasmas criados para satisfazer os meus desejos oníricos.
Mesmo assim vou continuar a lutar. Nem que seja para descobrir que para além do horizonte não existe nada.

Monday, April 11, 2005

A pensar em ti

Aqui estou eu a pensar em ti. A frase soa tão batida mas no entanto não perde o seu significado. O Sol também nasce todos os dias e no entanto não deixa de ser belo. Belo. Bela. És tu. O meu Sol. O meu amanhecer. O meu entardecer. A minha madrugada. As minhas 24 horas. Sinto-te em mim. Mas esse mim já não sou eu. Porque só existo em ti. É em ti que começo a conhecer-me.
Mas já chega. Não quero conhecer-me mais. Já vi o suficiente. Tudo. Nada. O infinito. Medo. Tenho medo daquilo que sou quando estás comigo. Mesmo não estando. Porque algo de ti está sempre comigo. Algo vive em mim mesmo quando não estás presente. Sinto-me invadido por um turbilhão de cores, sons e sabores. Sou um Mundo. Um Universo.
Mas do que é que estou a falar. Qual Universo? É um nada. Um vazio. Estou oco por dentro porque já não moras em mim. Abandonaste-me à solidão dos momentos inacabados mas intensamente vividos. Foi assim que vivi a nossa vida. Intensamente. Sobretudo os momentos que nunca chegaram a vir. Foram esses que mais senti. Vivi. Sorri. Chorei. Amei.
Vivi sempre na certeza de que o amanhã chegaria depressa por isso nunca desesperei. Porque sabia que haveria sempre um amanhã. Mas houve um dia em que o amanhã não surgiu. E eu fiquei a recordar o ontem que se tornou eterno. Na minha mente.

Entra

Entra. Mas entra devagar. Não faças barulho. Um movimento em falso e podes estragar tudo. Mas tu não farias isso. Tu és perfeita e sabes sempre tornar tudo perfeito. Mesmo assim entra com calma. Não quero que me acordes. Estou a sonhar contigo sabes? É um sonho tão lindo que tenho medo de acordar. Quero viver neste sonho para sempre. No meu sonho tu proteges-me de tudo e fazes-me sentir imortal.
Agora senta-te ao meu lado. Consegues ver-me? Às vezes parece que nem existo de tão leve que me fazes sentir. Sou do peso da alma que voa para encontrar um amanhã melhor. Podes tocar-me. Se conseguires. Eu deixo. Não te consigo dizer que não. Sinto-me desarmado pela tua doçura e pelo teu calor. O som das tuas palavras abraça-me e leva-me de volta à terra dos sonhos. Onde vivo desde que te conheci. Onde estiver o meu coração é onde quero estar. E o meu coração vive contigo.
Pode tocar-me de novo. Tocaste-me de uma maneira tão profunda e tão meiga. Ao teu primeiro toque estilhacei-me em mil pedaços. Agora percorro o mundo em busca desses pedaços de mim mas já não os encontro. Porque esse que era já não sou. Agora para encontrar-me só preciso de procurar em ti.
Agora sim podes acordar-me. Quero abrir os olhos e dar de caras com o teu sorriso. É só disso que preciso para sonhar contigo outra vez.

Sunday, April 10, 2005

O beijo

Ainda hoje me lembro do dia em que me disseste adeus. Não foram as palavras magoadas. Não foram os olhares vazios e cansados. Foi o teu beijo. Nesse momento percebi que partirias para sempre.
Nesse dia tudo soava a despedida. Nem sei como não percebi os sinais. O Sol despia a sua capa de Verão para dar lugar a um Outono sorridente mas ao mesmo tempo melancólico. As folhas diziam o seu último adeus às árvores suas amantes num jogo de necessidades sublimadas e nunca realizadas.
A tarde parecia pintada a lápis de cor. O café onde nos sentámos não tinha o mesmo ar acolhedor de sempre. Trocámos conversas mas no fim nada foi partilhado. Nada mais tinhas para me dar. Os risos mecânicos e esforçados. A pele fria e triste. E mesmo assim eu não quis perceber.
Até que me beijaste. Foi aí que percebi. Tudo tinha mudado. Os nosso beijos sempre tiveram a marca do futuro, dos projectos a dois, dos sonhos por concretizar. Mas esse beijo nada tinha de futuro nele. Antes pelo contrário. Era marcado pela saudade. Por aquilo que tinha sido vivido e que tinha ficado para trás. Algures na estrada que foi de nós para ninguém.
Agora sofro quando recordo o teu beijo. Tento guardar dentro de mim as memórias desse tempo em que tudo o que eu queria era que o tempo parasse de andar. Mas as memórias parecem grãos de areia que teimam e fugir dos meus dedos. Perdi o controlo sobre tudo. Estou cativo numa prisão criada pela minha solidão e agora já não sei como sair. As paredes vão-se fechando a pouco e pouco sob o peso das lágrimas derramadas em vão. Como se essas lágrimas fossem trazer de volta aquela tarde de Verão em que me beijaste e disseste adeus.

Máscaras

A raiva de só pensar. Só pensar para não sentir. Ou pensar em como sentir. Não interessa. O que interessa é que tens de pensar cada vez que assumes um risco. Cada vez que descobres algo dentro de ti. Tens de partir para a análise fria e racional desse momento, para logo nesse instante lhe retirares qualquer réstia de pureza, de novidade, de verdade.
Escolheste seguir esse caminho porque querias destruir as máscaras que criaste para ti e para os outros. Para que eles não vejam quem és. Porque podem não gostar de ti. Mas já pensaste que és tu quem pode não gostar daquilo que vê? Senão porque razão te esconderias por atrás de sombras, fachadas, risos ocos e alegrias cinzentas?
Quem és tu? Quem se esconde por detrás das máscaras? Às tantas já perdeste a conta a ti próprio. Deixaste de ser quem eras para assumires um papel criado por ti. Nesse teu teatrinho que julgas ser a tua vida. Achas bem? Pensas que as pessoas não notam? Ou pensas que a tua plasticidade ganha contornos de verdade aos olhos dos outros? O teu público não é estúpido. O maior erro é pensares que o teu público não percebe o que estás a querer fazer.
.....
Ficaste sem saber o que dizer? Do que é que estavas à espera? Pensavas que ninguém iria perceber? Mais tarde ou mais cedo as tuas máscaras vão começar a cair, de tão gastas que estão. Aí as pessoas vão perceber quem és. A tua verdadeira essência. Mas isso não vai ser uma coisa bonita de se ver. Porque a tua alma estará murcha e pálida. Porque ela precisa de ar para respirar e espaço para viver. E tu não lhe deste isso. Quando eles te virem assim, nu e pequeno, vais desejar ter mais uma das máscaras criadas por ti. Mas aí será tarde demais. De tanto pensares a tua fábrica desmoronou-se. Caiu de podre.
De tanto reflectires, de tanto te protegeres, esqueceste-te que a vida é para ser vivida e não para fugirmos dela.
Chega de teres pena de ti.

Saturday, April 09, 2005

Mais um dia perdido

Mais um dia perdido. Mais uma esperança desvanecida. Chego a casa e é sempre a mesma sensação de vazio. Um buraco enorme que não há forma de apagar. Mais uma vez cheguei a casa em busca de sinais da tua presença. Todos os dias é a mesma sina. A mesma história repetida vezes sem conta. Assim que chego à rua os meus olhos começam a procurar-te. Marcas. Vestígios. Algo que alimente a minha saudade esfomeada de ti. O meu coração dá sinais de vida à medida que meto a chave na porta e entro. Ele diz-me que é hoje que te vou reencontrar. É hoje que vais reentrar na minha vida. Mesmo que depois desapareças de novo. Mas esse desejo estilhaça-se como um copo de cristal mal chego à minha sala e não te vejo lá. No sofá. Sentado à minha espera. Engraçado como eu te imagino esperando por mim quando nestes anos todos fui eu quem esperou por ti. Sentado. Sem fazer nada para mudar esse rumo que a nossa vida tomou. Por que será que nos separámos? Será que foste tu que partiste? Ou foi a vida que nos pregou uma partida só para me fazer ver que a tua importância só era visível à distância? Eu bem sei que nunca te tinha dado valor enquanto estiveste perto de mim. Mas também não era preciso exagerar. Eu percebi a mensagem. Não consigo viver sem ti. Agora já podes voltar.
Oiço a campainha tocar. Ela não toca na realidade mas eu penso sempre que sim. E cada vez que ela toca és tu quem eu espero que apareça. Já estou a imaginar como vai ser. Quando nos virmos de novo. Tu vais surgir do nada e vais sorrir como se nada tivesse acontecido. Como se não tivessem passado mais de 6 minutos ( e não 6 anos ) desde o último momento que partilhámos. Imagino isso e imagino outras coisas. Será que o tempo passou por ti da mesma forma que passou por mim? Que histórias terás para me contar? Será que me irás reconhecer quando me vires? Às vezes penso que não o poderás fazer porque nunca me conheceste de verdade. Não poderiam ser aqueles breves minutos que me dispensavas o suficiente para dizer que me conhecias. Mas depois também penso que isso não importa. Eu sou parte de ti. Que mais precisas tu de saber acerca de mim?
Mas a verdade é que passou mais um dia e tu não apareceste. Abri a porta. Cheguei à sala. Mas não foste tu quem apareceu para me saudar.
Quem sabe amanhã....

Vai

Vai-te foder por me fazeres amar alguém que não existe. Vai-te foder por me cativares. Com o teu olhar. Com o teu sorriso. Com as tuas histórias. Vai-te foder por me fazeres acreditar que era especial. Vai-te foder por me fazeres aproximar de ti. Vai-te foder por me afastares com as tuas máscaras. Vai-te foder por me deixares confuso. Sem saber quem és. Sem saber quem sou. Vai-te foder por seres insuportável. Vai-te foder por seres adorável. Por te querer abraçar e por te querer estrangular. Por te querer beijar e te querer bater. Vai-te foder por me fazeres sentir coisas que nunca senti. Vai-te foder por me fazeres sentir mal comigo mesmo. Vai-te foder por me fazeres sentir que era invencível. Que podia destruir os teus medos e inseguranças. Vai-te foder por me mostrares quais eram os meus medos e inseguranças. Vai-te foder por me obrigares a dizer “vai-te foder” e me obrigares a dizer estas coisas. Vai-te foder por me fazeres amar uma miragem. Vai-te foder por me fazeres amar-te tanto. Tanto. Tanto. E vai-te foder por me fazeres odiar-te de morte. Até que a morte nos separe....vai-te foder.

Friday, April 08, 2005

Rugas

As rugas estão para a cara como as palavras estão para a folha em branco. São elas que lhe dão vida. Cada ruga tem uma história. Feita de alegrias, tristezas, saudades e dor. São essas marcas que nos fazem sentir vivos, que nos fazem sentir que já estivemos nalgum lado e fizemos alguma coisa.
A minha alma não tem rugas. É como uma folha em branco, sem histórias que lhe dêem vida. As histórias da minha vida parecem tão insignificantes e tão perenes que parece que foram escritas a tinta invisível. Olho para ela em busca de algo que me relembre que estou vivo, que sinto a vida da mesma forma que os outros a sentem. Mas nada. Nem uma recordação. Nem um lamento. Nem uma felicidade. É tudo tão distante e tão ténue que as memórias do meu ser teimam em excluir-me das suas fotografias. Não lhes pertenço. Não pertenço a nada nem a ninguém. Sou um livro em branco à espera que alguém lhe forneça uma história. Uma palavra. Uma lembrança. Algo que me recorde que ainda estou. E que sou.

Passeio

O difícil é começar. É partir. É voar. É querer. Não sei se quero. Tenho medo de querer. Tenho medo de não poder. Querer não é poder. Poder não é viver.
Estou sentado, no entanto a alma passeia-se pelas ruas da minha memória. As pedras da calçada ganham vida. Cada uma delas tem uma história agarrada a si. Uma imagem que vale mil recordações.
São todas diferentes. As recordações. São todas iguais. As imagens. São imagens de ti. A tua presença pavimenta o meu pensamento e dou por mim a caminhar por ruas já antes percorridas e outras que nunca trilhei.
As ruas da minha memória são labirintos. São caminhos tortuosos que vão mudando à medida que se aproximam do fim. Se por acaso olho para trás, já lá não encontro o prédio que acabei de contornar, o banco de jardim no qual me sentei.
O fim é sempre o mesmo. És tu. Tu. Tu. És. O meu fim. O meu caminho. O meu querer. Quero mais um pouco. Só mais um pouco. Quero aquele momento repetido ao infinito. Quero ver-te adormecer outra vez. Quero ver-te sonhar. Quero ver-te acordar.
Já não sei o que digo. Não sou eu que falo. Tenho mil vozes dentro de mim que falam por mim. Também elas sentem a tua falta. Também elas te chamam. O teu nome. Que lindo que é.
Vou dormir. Quero estar contigo de novo. Nos meus sonhos tu és minha. É esse o meu mundo. Vou dormir. Talvez amanhã as pedras da calçada já tenham um nova história para me contar
.

Thursday, April 07, 2005

Para ti

Nem sei como começar. Se soubesses a quantidade de vezes que imaginei esta nossa conversa...A cada segundo imaginava algo de novo para te dizer. Para te cativar. Para te criticar. Mas não consigo. Não te sei cativar. Não te sei criticar. Não sei se mereces sequer o meu esforço.
Mas penso muito em ti, sabes? Penso tanto em ti. Cada vez que me olho no espelho vejo a tua cara. Sou igual a ti. Tinhas de me fazer igual a ti, não era? Querias que eu ficasse com uma recordação tua. Aposto que quando me viste pela primeira vez já sabias que não ias estar comigo. A meu lado. A ver-me crescer. Mas isso não te preocupou. Sabias que eu ia crescer igualzinho a ti. Por isso me deixaste. A mim. A tua cópia. O teu eu renascido.
Nem sequer consigo ficar chateado contigo. Devia mandar-te à merda. Queria mandar-te à merda. Queria mandar-te para tanto sítio. Mas provavelmente chegaste lá antes que eu te pudesse mandar para lá. Em vez de ficares aqui comigo. A ver-me crescer. Igual a ti. O teu bilhete para a imortalidade.
Porquê? Porquê? Porquê? Porquê? A pergunta martela-me a cabeça. A cada segundo que passa me pergunto o que te fiz para não gostares de mim. Se é que não gostas de mim. Conheço-te tão pouco que nem sei se gostas de mim ou não. Se calhar nem te lembras de mim. Se calhar nem mereço que não gostes de mim. Mas eu queria saber. Se sim. Se não. E queria que soubesses que gosto de ti. Mentira. Amo-te. Amo-te muito. Não tenho vergonha de dizê-lo. Porque teria? Afinal sou parte de ti. És parte de mim. Somos parte do mesmo ser.
Mas minto outra vez. Apenas te digo que te amo porque não estás comigo. Se estivesses aqui eu não conseguiria abrir a boca. Nunca consegui. Talvez por não saber com quem estava a falar. Nunca soube. Quem eras tu? Quem era aquele estranho que entrava na minha vida por alguns minutos e depois desaparecia? Sem deixar rasto. Sem deixar saudades.
Olho agora para esses momentos que passámos juntos e tenho saudades. Tenho saudades das conversas que nunca existiram. Dos jogos que nunca jogámos. Das cumplicidades que..... Enfim, tenho saudades de tudo aquilo que nunca me deste. Que nunca te pedi.
Partiste e levaste contigo as minhas lágrimas. Nunca mais chorei. E sei porquê. Por tua causa. És um egoísta. Queres as minhas lágrimas só para ti. Partes. Não dizes nada. Levas contigo a minha alma. Na esperança de um dia voltares. Na esperança que eu um dia chore por ti. Mas para eu chorar preciso de ti aqui. És tu quem tem as minhas lágrimas. Sem elas não consigo chorar. EU QUERO AS MINHAS LÁGRIMAS! Quero poder chorar por ti. Chorar de raiva. Chorar de tristeza. Chorar de saudade. Chorar de alegria. Chorar de ti.
Não sei que dizer. Preciso de ti aqui. Mas não sei como chamar-te. Não sei para onde direccionar o meu grito. Já gritei para tanto lado e nunca respondeste. Será que ouviste? Será que ouviste e respondeste? Eu não ouvi. Responde de novo. Eu quero ouvir-te. Mais uma vez. Aqui. Ao pé de mim.
Queria ter tanta raiva de ti. Queria odiar-te. Tu bem o merecias. Merecias mais. Merecias o desprezo. O desprezo que me dedicaste a vida toda. Cada vez mais. Será que não entendes que eu preciso de ti? Pensas que é suficiente teres-me feito igual a ti? O teu trabalho não acaba aí. Há tanto para fazer. Tanto para aprender. Tanto para ensinar.
No entanto ensinaste-me muito. Aquilo que sou devo-o a ti. Aquilo que NÃO sou devo-o a ti. A minha fraqueza provém da tua ausência. A minha força nasce do amor que te tenho. Obrigado. Foste um bom pai. O único pai que quis ter. O único pai que quero ter. Ainda.
Só queria ouvir a tua voz mais uma vez.