Thursday, April 07, 2005

Para ti

Nem sei como começar. Se soubesses a quantidade de vezes que imaginei esta nossa conversa...A cada segundo imaginava algo de novo para te dizer. Para te cativar. Para te criticar. Mas não consigo. Não te sei cativar. Não te sei criticar. Não sei se mereces sequer o meu esforço.
Mas penso muito em ti, sabes? Penso tanto em ti. Cada vez que me olho no espelho vejo a tua cara. Sou igual a ti. Tinhas de me fazer igual a ti, não era? Querias que eu ficasse com uma recordação tua. Aposto que quando me viste pela primeira vez já sabias que não ias estar comigo. A meu lado. A ver-me crescer. Mas isso não te preocupou. Sabias que eu ia crescer igualzinho a ti. Por isso me deixaste. A mim. A tua cópia. O teu eu renascido.
Nem sequer consigo ficar chateado contigo. Devia mandar-te à merda. Queria mandar-te à merda. Queria mandar-te para tanto sítio. Mas provavelmente chegaste lá antes que eu te pudesse mandar para lá. Em vez de ficares aqui comigo. A ver-me crescer. Igual a ti. O teu bilhete para a imortalidade.
Porquê? Porquê? Porquê? Porquê? A pergunta martela-me a cabeça. A cada segundo que passa me pergunto o que te fiz para não gostares de mim. Se é que não gostas de mim. Conheço-te tão pouco que nem sei se gostas de mim ou não. Se calhar nem te lembras de mim. Se calhar nem mereço que não gostes de mim. Mas eu queria saber. Se sim. Se não. E queria que soubesses que gosto de ti. Mentira. Amo-te. Amo-te muito. Não tenho vergonha de dizê-lo. Porque teria? Afinal sou parte de ti. És parte de mim. Somos parte do mesmo ser.
Mas minto outra vez. Apenas te digo que te amo porque não estás comigo. Se estivesses aqui eu não conseguiria abrir a boca. Nunca consegui. Talvez por não saber com quem estava a falar. Nunca soube. Quem eras tu? Quem era aquele estranho que entrava na minha vida por alguns minutos e depois desaparecia? Sem deixar rasto. Sem deixar saudades.
Olho agora para esses momentos que passámos juntos e tenho saudades. Tenho saudades das conversas que nunca existiram. Dos jogos que nunca jogámos. Das cumplicidades que..... Enfim, tenho saudades de tudo aquilo que nunca me deste. Que nunca te pedi.
Partiste e levaste contigo as minhas lágrimas. Nunca mais chorei. E sei porquê. Por tua causa. És um egoísta. Queres as minhas lágrimas só para ti. Partes. Não dizes nada. Levas contigo a minha alma. Na esperança de um dia voltares. Na esperança que eu um dia chore por ti. Mas para eu chorar preciso de ti aqui. És tu quem tem as minhas lágrimas. Sem elas não consigo chorar. EU QUERO AS MINHAS LÁGRIMAS! Quero poder chorar por ti. Chorar de raiva. Chorar de tristeza. Chorar de saudade. Chorar de alegria. Chorar de ti.
Não sei que dizer. Preciso de ti aqui. Mas não sei como chamar-te. Não sei para onde direccionar o meu grito. Já gritei para tanto lado e nunca respondeste. Será que ouviste? Será que ouviste e respondeste? Eu não ouvi. Responde de novo. Eu quero ouvir-te. Mais uma vez. Aqui. Ao pé de mim.
Queria ter tanta raiva de ti. Queria odiar-te. Tu bem o merecias. Merecias mais. Merecias o desprezo. O desprezo que me dedicaste a vida toda. Cada vez mais. Será que não entendes que eu preciso de ti? Pensas que é suficiente teres-me feito igual a ti? O teu trabalho não acaba aí. Há tanto para fazer. Tanto para aprender. Tanto para ensinar.
No entanto ensinaste-me muito. Aquilo que sou devo-o a ti. Aquilo que NÃO sou devo-o a ti. A minha fraqueza provém da tua ausência. A minha força nasce do amor que te tenho. Obrigado. Foste um bom pai. O único pai que quis ter. O único pai que quero ter. Ainda.
Só queria ouvir a tua voz mais uma vez.

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