Monday, April 25, 2005

Sentir

Procuro amarrar os meus sentidos à força ténue da persistência. Encontro dentro de mim silêncios que se soltam para depois saírem dentro de mim nas alturas em que mais quero gritar. Eu bem tento. Invento uma força invisível para mim e para os outros. Deixo de ser quem sou para me tornar uma figura nova mas eternamente repetida.
Tudo isto porque quero repetir aquele momento até ao infinito. O sabor de cada segundo que passei em teus braços. O cheiro das horas passadas em conjunto. A sensação de que tudo o resto eram apenas figuras de papel num undo em que os únicos personagens de carne e osso éramos nós.
Não quero pensar para não tocar na magia desse instante. O instante em que as nossas almas se tocaram e brincaram numa esfera de cor e luz. Quero guardá-lo. Conservá-lo. Preservá-lo numa redoma inquebrável. Só minha. Para que eu possa retirá-lo sempre que quiser viver esse momento de novo.
Sei que não digo nada de jeito mas isso não me preocupa. Sinto mais a vida quando me deixo levar por estes momentos de insanidade saudável. Tropeço nas palavras e caio em redundâncias e imitações de palavras ocas e gastas mas não me importo. Não me importo de cair e sentir as mãos negras da sujidade dos passos já dados em caminhos percorridos tantas vezes pelas mesmas pessoas. E por tantas outras.
Só quero sentir que vivo. Que o coração bate dentro de mim. Porque dentro de mim vive tanta coisa que às tantas já nem sei se tenho espaço para um coração que sinta. Que bata e me faça dizer tudo o que mora em mim.

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