Monday, April 18, 2005

Necessidade

A necessidade imperiosa de me sentir vivo. Através dos outros e de mim mesmo. Caminho exausto por ruas de sal e estradas de maresia. Acordo e vejo que mais uma vez me enganei no caminho. Mas o engano compensa. A saudável sensação do engano cola-se a mim e faz-me sentir vivo. Num mundo de fachadas imponentes e horizontes lúgubres.
Sentado em frente a esta folha espero que ela me revele algo sobre mim. Algo que desconheço. Ou algo que tenho medo de reconhecer. Mas parece que as revelações são sempre as mesmas. Abraço os momentos passados como entes queridos finalmente reencontrados. O Futuro não me importa enquanto tiver a recordação do Passado para me reconfortar o Presente. Morro e renasço todos os dias por entre as cinzas de um beijo envergonhado. De uma paixão fria e estéril. Mas aquece-me a sensação de saber que nada é eterno. E que mesmo este desconforto há-de soltar-se de mim e partir. Como se fosse uma pele velha e gasta.
Arranco as minhas unhas cheias de sangue de tanto esgravatar no ar à procura de novos mundos. Provo o ar pesado e salgado em busca de tudo aquilo que me podes dar mas nunca deste. Sorrio. Porque sei que um dia vais ser minha. Anseio por esse momento como quem anseia por algo inevitável. Nesse momento em que fores minha poderei então dizer que não te quero mais. Que já encontrei alguém que brilha mais do que tu. Não quero mais as tuas recordações. Todo o amor que existia entre nós já morreu. Arranco-o da minha pele como se arranca a uma tatuagem. Quero que desapareças. Quero que deixes de brilhar e te apagues para sempre. Quero que te tornes num ponto escuro eternamente ofuscado por outros infinitamente mais brilhantes do que tu. Não me mereces. Mereces ficar sozinha. Porque me fizeste sentir sozinho. Mesmo nos poucos momentoos em que estive contigo. Grita. Estás à vontade. Aqui ninguém te ouve. Podes chorar à vontade. Também eu em tempos chorei por ti. Cada lágrima era um peso que saía de mim para depois voltar em forma de beijo.
Agora vai. Desaparece-me por essa porta fora e leva-a contigo. Quero recomeçar de novo e não quero nada que me relembre que alguma vez estiveste aqui.

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