Thursday, July 21, 2005

O dia seguinte

Caí.
Não doeu.
Feitas as contas saí a ganhar.
Já estou pronto para nova caminhada.

Tuesday, July 19, 2005

Queda

E de repente ele caiu.
Não sabe ainda se de muito alto porque ainda não sentiu o chão debaixo dele.
À medida que vai caindo vai olhando para cima para perceber o que o faz cair.
Não sabe.
Não interessa.
Ele devia saber que quem tem medo de alturas não se põe a escalar montanhas.
Nem as inventa só para depois as poder escalar.
Ele já sabia que mais tarde ou mais cedo isto iria acontecer.
Quando subimos muito torna-se mais fácil vir parar ao chão.
Talvez a certeza deste destino faça com que ele olhe com mais calma a queda que se aproxima. Mas ele já nem olha para aí.
A segurança invade-o, mesmo tacteando à sua volta sem encontrar algo a que se agarrar.
Ele sabe que não há nada para além do chão e que depois de cair, levantar-se costuma ser um bom remédio.
Na sua face não se nota a tristeza que ainda o vai consumindo, a pouco e pouco é certo.
A sua face é o espelho de alguém que já percorreu este caminho e que sabe exactamente para onde ir.
Por mais dor que sinta no impacto, por mais escura que seja a estrada diante dele, ele sabe sempre qual a direcção a seguir.
E é por isso que ele não desespera.
Para já, apenas espera.
Espera a queda.
Para depois poder caminhar de novo.

Wednesday, July 13, 2005

Isolados do mundo

E a pouco e pouco apercebem-se que precisam um do outro.
Os seus mundos cada vez mais caminham numa mesma direcção.
Com a confiança própria de quem sabe que o caminho a percorrer, mesmo incerto, é o caminho mais correcto.
Não há promessas.
Mas os olhares e as brincadeiras e as cumplicidades falam mais alto.
“Tu já fazes parte da minha vida” dizem um para o outro.
Por entre uma face ruborizada pela inocência de tal afirmação eles compreendem-se e isso tranquiliza-os.
No fundo eles apenas desejam sentir-se especiais.
E por breves momentos nada existe de mais especial do que aquele olhar trocado em segredo.
Aquele roçar de mãos solitárias.
Aquele gosto molhado do beijo desejado mas que teima em não sair.
Nesse momento ficaram os dois.
Isolados do mundo.

Sentir-te

Como é bom sentir-te...voar por entre os teus braços e ver um mundo onde o mar respira carinho e as incertezas possuem a cor do vento. Não busco nesta minha carência uma resposta para todos os anseios mas sinto que quando voo mais alto as estrelas não chegam a tocar os meus calcanhares.
Na penumbra de um cigarro que não quer acabar descubro que nada para além de mim respira o teu ar. Sinto-me poeira que só ganha forma quando recebe o teu olhar tão cheio de tudo. Um olhar que transborda vida. Vida vivida e vida desejada. Tropeço nas palavras que saem da minha boca à velocidade de um bater de asas. As asas que anseiam chegar sempre mais longe e mais alto. Até ao cume. Até ao pico.
Queria poder atingir o teu pico e ver o que tu vês. Porque sei que é desse lugar que a tua alma ganha vida e verdade. A verdade que vou descobrindo em mim à medida que vou abrindo em mim janelas que desconhecia. Janelas que ganharam forma através do teu toque. Como é bom sentir-te...sentindo-me.

Friday, July 08, 2005

Longe

Sento-me no chão
Olho as estrelas e inspiro o céu
Vislumbro uma nuvem e imagino um véu
Cobrindo o teu corpo como a solidão

Na poeira do passado escrevo a minha história
Cheia de dúvidas e indecisões
São tantas as desilusões
Que povoam a minha memória

Longe
Sinto-me tão longe
De tudo o que já vivi
De tudo o que aprendi

Longe
Sinto-me tão longe
A vida já não volta atrás
Sozinho sei que não sou capaz

Mergulho no meu próprio choro
Estou preso sem saber voar
Abro a boca para não gritar
Fecho os olhos e sinto que morro

E agora perdido nesta ilusão
Acordo para não mais dormir
É triste ver-te assim partir
E saber que tinhas toda a razão