Sunday, May 22, 2005

Mim

Não queria falar do mesmo. Mesmo sabendo que aquilo que sinto é tão forte que me ocupa o tempo todo. O tempo do meu ser. O tempo que medeia entre aquele que sempre fui e aquele que vai nascendo em mim pouco a pouco.
Mas por mais voltas que dê e por mais caminhos que procure descobrir o tempo do meu ser tem sempre o mesmo destino. TU!
Queria poder falar da cor da Primavera quando começa. Queria poder falar do sabor do mar ao entardecer. Queria poder falar dos desenhos que as estrelas fazem nas noites de lua cheia. Queria poder falar de algo novo de uma forma nova.
Mas a verdade é que vou sempre parar ao mesmo sítio.
Às vezes tenho medo de me repetir e que te fartes das mesmas palavras repetidas até à exaustão. Que te canses daquilo que sinto por ti. Como eu às vezes me canso de sentir estas coisas. Todas elas tão novas e tão frescas, mas que quando tento dar-lhes uma aparência exterior acabam sempre por usar os mesmos figurinos velhos e gastos.
Fazes-me inspirar originalidade mas expirar lugares comuns. NÃO QUERO O COMUM! Porque nada daquilo que sinto por ti é comum. Tudo isso é novo em mim.
Cada olhar, cada beijo teu assume mil vidas próprias dentro de mim. Mim. Mim. Mim! De que me serve falar de mim se sinto que essa palavra existe apenas na sua plenitude porque tu existes. Porque tu és.
A única coisa que desejo é que continues a ser. Assim como sempre foste. Cheia de idiossincracias. Cheia de defeitos. Cheia de tudo aquilo que não encontro em mim.

O prazer

O prazer
O prazer de te observar
E de sentir que cada movimento teu completa os meus
Num desenho contínuo de formas e cores espirituais

O prazer
O prazer de te beijar
E de sentir nesse instante que o mundo gira ao contrário
E que os mares vão desaguar aos rios como a minha boca desagua na tua

O prazer
O prazer de te tocar
E de sentir que nada mais à minha volta existe
Porque a minha pele fica coberta pelo suave toque da tua

O prazer
O prazer de existires
E de sentir que tudo faz sentido em mim apenas por estares lá
E que as perguntas feitas pelo meu corpo encontram resposta no teu suave dançar

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias então que o mar nem sempre é azul
Quando os teus olhos não tocam nos meus

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias que o sal das tuas lágrimas
Se torna mel nos lábios de quem sussurra o teu nome pelos cantos da memória

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias a minha luta constante contra o relógio
Na espera vã de que um momento se torne eterno em ti

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias que qualquer tentativa de pôr em palavras os meus sentimentos
Fracassaria no instante em que a tua pele desenha em mim uma nova história

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias que Amo-te é apenas uma palavra
Que se torna pequena quando envolta na subtileza do teu sorriso de criança

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Então eu não precisaria de escrever este poema
Porque os meus olhos já teriam dito tudo

Monday, May 09, 2005

Avó

Tenho tanto para te dizer. Tanto para te agradecer. Nem sei por onde começar. Pergunto a mim mesmo o que fiz para merecer ter conhecido alguém como tu e ter sido o receptáculo de tanto amor e carinho. As respostas não surgem com facilidade. Talvez não exista uma resposta para essa pergunta. Quando somos bafejados pela sorte, o melhor talvez seja nem sequer questionar o porquê dessa sorte.
Estiveste sempre lá. Quando nasci. Quando cresci. Assististe ao meu crescimento e foste parte essencial nesse mesmo crescimento. Aquilo que sou hoje devo-o em grande parte a ti e aos teus ensinamentos. Ensinaste-me tanta coisa. Sobretudo ensinaste-me a dar aos outros sem esperar nada em troca. Apenas pelo prazer e gratificação inerentes ao próprio acto de dar. Ensinaste-me também a praticar o bem e a respeitar os outros, mesmo quando são tão diferentes de nós.
Para ti não existia o exterior. Era o interior das pessoas que importava. Se o seu interior fosse bom, de pouco importava qual a sua cor, a sua religião ou quanto dinheiro tinham na carteira.
A tua riqueza consistia na capacidade interminável de estares disponível para ajudar os outros. E quanto mais davas de ti, mais rica te tornavas. Isso nunca hei-de esquecer.
Só tenho pena de nunca te ter agradecido convenientemente tudo aquilo que fizeste por mim ao longo da minha vida. Não me conhecias de lado nenhum, não tinhamos laços de sangue que nos unissem, no entanto, acolheste-me e cuidaste de mim como se fosse um dos teus e isso fez-me ver que a verdadeira família não é aquela que se esconde por trás de traços genéticos comuns, mas sim aquela que nos recebe com amor, nos protege e se preocupa com o nosso bem-estar.
Agora, nesta hora em que parte de ti se separou de mim para sempre, resta-me a consolação de sentir que deixaste em mim tanto amor, tanta gratidão, tanto respeito pelos outros. Isso eu sei que nunca sairá de dentro de mim.
Obrigado Avó!

Wednesday, May 04, 2005

Uma dúvida

Estou com uma dúvida. Como é que se diferencia o pensar do sentir? É que cada vez mais chego à conclusão que as duas coisas estão inter-ligadas. Eu não consigo dissociar uma coisa da outra. Para mim, sentir tem muito de pensamento dentro de si, mais não seja pensar enquanto percepção de um sentimento, de uma emoção.
Pergunto isto porque há vários dias que passo o tempo a pensar/sentir a mesma coisa e já não sei se isso se mantém dentro de mim porque penso nisso ou porque efectivamente o sinto.
Alguém me pode ajudar?

Uma pergunta

Será que ainda acordas com vontade de me abraçar? Anseio TANTO pela tua vontade e pelo teu abraço...

A todos os meus amigos

A todos os meus amigos que me têm ouvido bastante nos últimos tempos e que mesmo assim conseguem ter paciência para me ouvir ainda mais aqui vai o meu obrigado. Também vocês são um refúgio para a minha alma.
- Como te sentes?
- Não sei.
- Não sabes? Então quem sabe?
- Pois....
- Então diz lá como te sentes?
- Tenho saudades tuas!
- Tens?
- Sim. Muitas!
- Eu também!
- Estás a falar a sério?
- Não sei.
- Não sabes? Então quem sabe?
- Pois....

Distância

Às vezes não sei o que custa mais: se a distância física ou a distância emocional. Porque de nada me serve estar perto de ti quando sinto que já nem povoo o teu pensamento. Estou perto de ti no entanto sinto-me invisível. E isso custa-me mais do que estar longe de ti mas saber que sou constante na tua memória.

Janeiro

Tenho saudades de Janeiro. Em Janeiro éramos puros.

Monday, May 02, 2005

Adeus

Não queria falar sobre isto. Não queria sentir tudo de novo. Queria que este fogo se apagasse para que pudesse pegar nas cinzas e observar aquilo que restou de nós.
Ainda está tudo muito fresco. Ainda mora em mim aquele sentimento que se apossou da minha alma e matou uma parte do meu ser. Talvez matar seja uma palavra muito forte. Talvez nada esteja morto dentro de mim. Apenas adormecido. Desmaiado. Não sei. Talvez. Nesta vida as certezas desvanecem-se a cada novo passo que damos na estrada da nossa história. Eu já não tenho certezas de nada. Pelo menos nada que diga respeito a nós. Todas as certezas que construí ao longo deste tempo foram estilhaçadas por ti em milhares de pequenas incertezas, inseguranças, que me fazem sentir que não te conheço. E pior que tudo, que nunca te conheci.
Talvez tenha pedido demais. Talvez tenha esperado demais. Tu nunca me prometeste nada. Pelo menos foi isso que sempre disseste. Mas a verdade é que prometeste. Mesmo sem dares por isso.E não cumpriste. Nada daquilo que me disseste adquiriu uma vida e uma verdade.
As palavras trazem agarradas a si conteúdos, formas, esperanças e desilusões. Mas palavras não são meros instantâneos que apenas existem durante o tempo em que são proferidas. As palavras têm o dom de mudar o futuro, mesmo que seja uma mudança pessoal e interior. Foi isso que aconteceu. Todas as palavras que trocámos e todos os nossos gestos foram mudando o rumo que a nossa relação teve ao longo do tempo.
Fizemos o que fizemos e dissemos o que dissemos não só porque o sentimos no momento mas também porque sabíamos que isso não era algo de vazio, era antes algo de frutífero, algo que solidificaria com o passar dos dias e dos meses.
Estou aqui a falar pelos dois mas a verdade é que só devia estar a falar por mim. Eu fiz o que fiz, disse o que disse, pelos motivos que mencionei. Por ti não posso falar. Já não quero fazer isso.
Durante muito tempo tentei falar por ti, sobretudo naqueles momentos em que o silêncio se tornara o principal tema de conversa entre nós. Durante muito tempo tentei dar uma voz às minhas questões, às minhas incertezas. Na tua boca procurei colocar as respostas, as motivações, para a tua distância, para a tua frieza, para tudo aquilo que a tua boca não transmitia mas que o teu corpo gritava.
Todas essas explicações faziam todo o sentido para mim e eu continuava, impávido e pouco sereno, sempre à espera de não ter de falar mais por ti. Mas agora chega.
Estou farto. Desisto. Atingi o meu limite. Apercebi-me que tenho falado por ti este tempo porque tu não tens nada para me dizer. Já não posso procurar-te mais porque sinto que já não queres ser encontrada por mim. E mais: percebo agora que, em vez de seres encontrada, cada vez procuras afastar-te mais de mim. Estás tão longe que a única coisa que consigo vislumbrar é uma ténue silhueta, a silhueta de alguém que se tornou desconhecido para mim.
Estou triste. Estou triste porque perdi uma amiga. Estou triste porque já nem me lembro como essa amizade surgiu. Estou triste porque não sei se foste tu quem me ofereceu essa amizade ou se fui eu que projectei um amigo em ti. Estou triste porque depois deste tempo todo vislumbro um fim. E não gosto de vislumbrar o fim das coisas. Sobretudo aquelas que durante tanto tempo nos satisfizeram e alimentaram o nosso corpo interior.