Friday, April 08, 2005

Rugas

As rugas estão para a cara como as palavras estão para a folha em branco. São elas que lhe dão vida. Cada ruga tem uma história. Feita de alegrias, tristezas, saudades e dor. São essas marcas que nos fazem sentir vivos, que nos fazem sentir que já estivemos nalgum lado e fizemos alguma coisa.
A minha alma não tem rugas. É como uma folha em branco, sem histórias que lhe dêem vida. As histórias da minha vida parecem tão insignificantes e tão perenes que parece que foram escritas a tinta invisível. Olho para ela em busca de algo que me relembre que estou vivo, que sinto a vida da mesma forma que os outros a sentem. Mas nada. Nem uma recordação. Nem um lamento. Nem uma felicidade. É tudo tão distante e tão ténue que as memórias do meu ser teimam em excluir-me das suas fotografias. Não lhes pertenço. Não pertenço a nada nem a ninguém. Sou um livro em branco à espera que alguém lhe forneça uma história. Uma palavra. Uma lembrança. Algo que me recorde que ainda estou. E que sou.

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